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Os 25 Melhores Poemas de Charles Bukowski


Charles Bukowski tentou por toda a vida sufocar sua sensibilidade sob uma casca grossa de sarcasmo, ironia, desilusão e tristeza. Mas não conseguiu. Como todo bom poeta ele só conseguiu impregnar beleza nestas suas tentativas. 
Neste volume de poemas escolhidos, somos vítimas deste lirismo por vezes cruel de um homem que viveu de forma libertária sua vida, presa de uma veia poética que irrigáva-lhe à revelia. 
A quem arriscar-se a desfrutar desta coletânea é bom avisar que não haverá encanto antes do desconforto e da vertigem. Mas se conseguirmos nos enxergar companheiros do velho Buk nesta viagem absurda que é esta vida pós qualquer tudo, não voltaremos para casa da mesma forma que saímos.




Um poema de amor 

todas as mulheres
todos os beijos delas as
formas variadas como amam e
falam e carecem.

suas orelhas elas todas têm
orelhas e
gargantas e vestidos
e sapatos e
automóveis e ex-
maridos.

principalmente
as mulheres são muito
quentes elas me lembram a
torrada amanteigada com a manteiga
derretida
nela.

há uma aparência
no olho: elas foram
tomadas, foram
enganadas. não sei mesmo o que
fazer por
elas.

sou
um bom cozinheiro, um bom
ouvinte
mas nunca aprendi a
dançar — eu estava ocupado
com coisas maiores.

mas gostei das camas variadas
lá delas
fumar um cigarro
olhando pro teto. não fui nocivo nem
desonesto. só um
aprendiz.

sei que todas têm pés e cruzam
descalças pelo assoalho
enquanto observo suas tímidas bundas na
penumbra. sei que gostam de mim algumas até
me amam
mas eu amo só umas
poucas.

algumas me dão laranjas e pílulas de vitaminas;
outras falam mansamente da
infância e pais e
paisagens; algumas são quase
malucas mas nenhuma delas é
desprovida de sentido; algumas amam
bem, outras nem
tanto; as melhores no sexo nem sempre
são as melhores em
outras coisas; todas têm limites como eu tenho
limites e nos aprendemos
rapidamente.


todas as mulheres todas as
mulheres todos os
quartos de dormir
os tapetes as
fotos as
cortinas, tudo mais ou menos
como uma igreja só
raramente se ouve
uma risada.

essas orelhas esses
braços esses
cotovelos esses olhos
olhando, o afeto e a
carência me
sustentaram, me
sustentaram.





Do livro “Os 25 melhores  Poemas de Charles Bukowski”

Editora: BERTRAND DO BRASIL



Confissão 


esperando pela morte
como um gato
que vai pular
na cama

sinto muita pena de
minha mulher

ela vai ver este
corpo
rijo e
branco

vai sacudi-lo e
talvez
sacudi-lo de novo:

“Henry!”

e Henry não vai
responder.

não é minha morte que me
preocupa, é minha mulher
deixada sozinha com este monte
de coisa
nenhuma.

no entanto,
eu quero que ela
saiba
que dormir
todas as noites
a seu lado

e mesmo as
discussões mais banais
eram coisas
realmente esplêndidas

e as palavras
difíceis
que sempre tive medo de
dizer
podem agora
ser ditas:

eu
te amo.




Do livro “Os 25 melhores  Poemas de Charles Bukowski”
Editora: BERTRAND DO BRASIL


O Lobo da Estepe - Hermann Hesse




     Após concisa caracterização do protagonista (Harry Haller) no prefacio, a historia do livro de fato começa com as "Anotações de Harry Haller, só para loucos",.
     Harry é um cinqüentão que não vê sentido nenhum em sua vida, ele portanto se intitula um "lobo da estepe", pois se encontra sempre a margem das outras pessoas, e vive uma situação critica, planejando até o dia do suicídio. Passa seus dias a ler livros, fumar e beber.
Certa vez quando ia a um bar, encontra um letreiro num muro antigo, em que se encontra a escritura, "O teatro mágico. Entrada só para raros". No asfalto lê "Só para loucos". Mais tarde quando retornava do bar encontra um sujeito, que lhe dá um panfleto, "O tratado do Lobo da Estepe", que descrevia todo intimo da principal personagem, Harry Haller, após a leitura do tratado, a situação de Harry só piora, e quando está decidido a abrir a "saída de emergência” (suicídio), encontra Hermínia,  a partir daí então a vida de Harry muda totalmente, mais tarde conhece outras personagens fundamentais para a historia, Pablo e Maria que junto com Hermínia o faz conhecer o “Teatro mágico”...

Trecho:
Fala o Lobo da Estepe: "Ao mesmo tempo pensava comigo: assim como agora me visto e saio, vou visitar o professor e troco com ele algumas frases amáveis, mais ou menos falsas, tudo isso contra a minha vontade; assim procede a maioria dos homens que vivem e negociam todos os dias, todas as horas, forçadamente e sem na realidade querê-lo; fazem visitas, mantêm conversações, sentam-se durante horas inteiras em seus escritórios e fábricas, tudo à força, mecanicamente, sem vontade; tudo poderia ser realizado com a mesma perfeição por máquinas ou não se realizar; e essa mecânica eternamente continuada é o que lhes impede, assim como a mim, de exercer a crítica de sua própria vida, reconhecer e sentir sua estupidez e superficialidade, sua desesperada tristeza e solidão. E têm razão, muitíssima razão, os homens que assim vivem, que se divertem com seus brinquedinhos, que correm atrás de seus assuntos, em vez de se oporem à mecânica aflitiva e olharem desesperados o vazio, como faço eu, homem marginalizado que sou. Se às vezes desprezo e até me burlo dos homens nestas páginas, não será por isso que os culpe de minha indigência pessoal! Mas eu, que cheguei tão longe e estou à margem da vida, de onde se tomba à escuridão sem fundo, cometo uma injustiça e minto, se pretendo enganar-me e enganar os outros, como se funcionasse também para mim aquela mecânica, como se continuasse a pertencer àquele mundo nobre e infantil do eterno jogo!"



Hermann Hesse, O Lobo da Estepe (Der Steppenwolf, 1927)
Editora Bestbolso