sexta-feira, 22 de julho de 2011

Sorte...

   –Tem um cigarro? – falou enquanto eu me apressava.
   Aquilo não foi nada agradável de se ouvir.
   Não naquele lugar.
   Não após o que ainda me ecoava aos ouvidos.
   Dei alguns passos na direção em que imaginei ser a contrária.
   –Tem um cigarro? – tornei a ouvir.
   Parei e resolvi falar como se estivesse tranquilo.
   –Tenho. Mas é só o que posso te arranjar.
   Puxei o maço de cigarros do bolso, segurei um entre os dedos e estiquei o braço.
   Como a fisgada de um peixe pequeno, senti quando pegou.
   Logo um isqueiro se acendeu e pude ver o rosto magro, de linhas gritantes, que apesar da situação, transparecia calma.
   –Esperando alguém? – perguntou.
   –Não. Estava de passagem.
   –Pensei ter ouvido gritos. Você não ouviu?
   Eu sabia que toda a minha sorte estava naquela resposta.
   –Não.
   –Se eu fosse você, sairia logo daqui.
   Acatei sem mais pensar.
   Nada mais aconteceu antes que eu saísse de lá. Mas até hoje, por mais distante que eu esteja, não há um só dia em que não volte àquele lugar.





Do livro “Brincadeira Extemporânea” – S. L.

BN - Registro 462.194  - Obra não publicada.

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